General confirma discussão sobre minuta golpista
O general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, confirmou à Polícia Federal (PF) que foi convocado pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL) para reunião em que se discutiu propostas golpistas contra a eleição de Lula (PT), em dezembro de 2022. Segundo fontes próximas ao militar, ele respondeu a cerca de 250 perguntas sobre os dias finais enquanto chefe do Exército, em depoimento que durou mais de sete horas na última sexta-feira (1º).
Freire Gomes atribuiu a Bolsonaro a
responsabilidade pela manutenção dos acampamentos golpistas e se
eximiu da responsabilidade pela participação das Forças Armadas
como fiscalizadoras das eleições, ação que colocou em dúvida a
confiança das urnas eletrônicas. Generais ouvidos pela reportagem
afirmam que, apesar do desgaste institucional de um ex-comandante do
Exército depor à PF, foi a primeira vez que Freire Gomes teve a
oportunidade de contar a versão dele dos fatos após série de
especulações serem levantadas.
Eles ainda dizem que o
depoimento era relevante para o general demonstrar que não foi
omisso diante de apelos golpistas feitos por Bolsonaro, aliados e
militares. Freire Gomes já vinha implicando Bolsonaro como
responsável pela manutenção de acampamentos golpistas em frente
aos quartéis.
O relato do general ignorou, porém, que
ele próprio disse a todos os generais da ativa em 10 de novembro de
2022 que os acampamentos não deveriam ser reprimidos. Também não
levou em consideração a nota dos comandantes das Forças Armadas,
no dia seguinte, que continha tom considerado elogioso aos
manifestantes em frente ao Quartel-General (QG) do Exército.
Para
prestar o depoimento na sexta, Freire Gomes voltou de uma viagem à
Espanha, onde visitava familiares. Ele conversou com militares mais
próximos, que mantêm cargos relevantes na estrutura do Exército, e
se mostrou disposto a colaborar com as investigações.
O
ex-comandante da Aeronáutica Carlos Baptista Júnior está em
situação semelhante. Ele prestou depoimento por quase dez horas à
PF em meados de fevereiro e também confirmou a participação em
reuniões de tom golpista no Palácio da Alvorada. Baptista Júnior e
Freire Gomes afirmaram a interlocutores terem apresentado oposição
às intenções antidemocráticas. O único que teria manifestado
apoio às investidas, segundo a delação do tenente-coronel Mauro
Cid, foi o ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos.
O
almirante foi chamado a depor à Polícia Federal no último dia 22.
Ele, porém, optou pelo silêncio. Investigadores querem concluir
rapidamente as apurações que miram Bolsonaro. A meta é finalizar
os três inquéritos que têm o ex-presidente como investigado até
junho.
O último que deve ser encerrado é justamente o
das milícias digitais, que trata da investigação sobre trama para
dar golpe de Estado. Os outros dois envolvem o recebimento de joias
da Arábia Saudita e a fraude no cartão de vacinação dele. Esses
inquéritos devem ser concluídos antes, pelo cronograma estabelecido
pela PF.
Além desses militares, a Polícia Federal colheu
depoimento de outros generais, ex-ministros, ex-assessores e aliados
de Bolsonaro. Ao menos 24 pessoas prestaram depoimento no mês
passado. A maioria optou pelo silêncio, como fez o ex-presidente,
mas ao menos quatro pessoas falaram.
Segundo investigadores,
houve entre os depoentes quem demonstrasse interesse em colaborar com
a PF por meio de delação premiada. Quem acompanha o caso, porém,
pondera que foram demonstradas apenas intenções iniciais e que
essas colaborações podem não avançar.
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