terça-feira, 5 de março de 2024

 General confirma discussão sobre minuta golpista

O general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, confirmou à Polícia Federal (PF) que foi convocado pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL) para reunião em que se discutiu propostas golpistas contra a eleição de Lula (PT), em dezembro de 2022. Segundo fontes próximas ao militar, ele respondeu a cerca de 250 perguntas sobre os dias finais enquanto chefe do Exército, em depoimento que durou mais de sete horas na última sexta-feira (1º).


Freire Gomes atribuiu a Bolsonaro a responsabilidade pela manutenção dos acampamentos golpistas e se eximiu da responsabilidade pela participação das Forças Armadas como fiscalizadoras das eleições, ação que colocou em dúvida a confiança das urnas eletrônicas. Generais ouvidos pela reportagem afirmam que, apesar do desgaste institucional de um ex-comandante do Exército depor à PF, foi a primeira vez que Freire Gomes teve a oportunidade de contar a versão dele dos fatos após série de especulações serem levantadas.

Eles ainda dizem que o depoimento era relevante para o general demonstrar que não foi omisso diante de apelos golpistas feitos por Bolsonaro, aliados e militares. Freire Gomes já vinha implicando Bolsonaro como responsável pela manutenção de acampamentos golpistas em frente aos quartéis.

O relato do general ignorou, porém, que ele próprio disse a todos os generais da ativa em 10 de novembro de 2022 que os acampamentos não deveriam ser reprimidos. Também não levou em consideração a nota dos comandantes das Forças Armadas, no dia seguinte, que continha tom considerado elogioso aos manifestantes em frente ao Quartel-General (QG) do Exército.
Para prestar o depoimento na sexta, Freire Gomes voltou de uma viagem à Espanha, onde visitava familiares. Ele conversou com militares mais próximos, que mantêm cargos relevantes na estrutura do Exército, e se mostrou disposto a colaborar com as investigações.

O ex-comandante da Aeronáutica Carlos Baptista Júnior está em situação semelhante. Ele prestou depoimento por quase dez horas à PF em meados de fevereiro e também confirmou a participação em reuniões de tom golpista no Palácio da Alvorada. Baptista Júnior e Freire Gomes afirmaram a interlocutores terem apresentado oposição às intenções antidemocráticas. O único que teria manifestado apoio às investidas, segundo a delação do tenente-coronel Mauro Cid, foi o ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos.

O almirante foi chamado a depor à Polícia Federal no último dia 22. Ele, porém, optou pelo silêncio. Investigadores querem concluir rapidamente as apurações que miram Bolsonaro. A meta é finalizar os três inquéritos que têm o ex-presidente como investigado até junho.

O último que deve ser encerrado é justamente o das milícias digitais, que trata da investigação sobre trama para dar golpe de Estado. Os outros dois envolvem o recebimento de joias da Arábia Saudita e a fraude no cartão de vacinação dele. Esses inquéritos devem ser concluídos antes, pelo cronograma estabelecido pela PF.

Além desses militares, a Polícia Federal colheu depoimento de outros generais, ex-ministros, ex-assessores e aliados de Bolsonaro. Ao menos 24 pessoas prestaram depoimento no mês passado. A maioria optou pelo silêncio, como fez o ex-presidente, mas ao menos quatro pessoas falaram.
Segundo investigadores, houve entre os depoentes quem demonstrasse interesse em colaborar com a PF por meio de delação premiada. Quem acompanha o caso, porém, pondera que foram demonstradas apenas intenções iniciais e que essas colaborações podem não avançar.

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