PF avança em caso de tentativa de golpe por Bolsonaro
O passaporte estava na sede do PL, em Brasília, e foi entregue
aos policiais que faziam busca e apreensão no prédio do
partido.
“Saí do governo há mais de um ano e sigo sofrendo
uma perseguição implacável”, disse Bolsonaro, em uma chamada de
vídeo no WhatsApp, à reportagem. “Me esqueçam, já tem outro
governando o país.”
A PF informou a Bolsonaro que ele está
proibido de se comunicar com os outros alvos da operação. Ele
afirmou à reportagem que está ainda se inteirando das buscas e
apreensões e das prisões e que não poderia dar mais declarações.
“Estou tentando entender, parece que é um novo inquérito”,
disse.
As buscas realizadas ontem fazem parte da Operação
Tempus Veritatis, que apura organização criminosa que teria atuado
na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático
de Direito, para tentar obter vantagem de natureza política com a
manutenção do então presidente da República no poder mesmo depois
de derrotado por Lula (PT) nas eleições de 2022. As informações
que embasaram a operação foram coletadas na delação do
ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid.
Os policiais cumpriram 33 mandados de busca e apreensão e
quatro mandados de prisão preventiva em dez estados e no Distrito
Federal. Dois ex-assessores de Bolsonaro, coronel Marcelo Câmara e
Filipe Martins, foram presos. Câmara já era investigado no caso da
fraude ao cartão de vacinação do ex-presidente. Martins foi
assessor especial para Assuntos Internacionais do ex-presidente.
Há ainda medidas cautelares, como proibição de contatos
entre os investigados, retenção de passaportes e destituição de
cargos públicos. Entre os alvos da operação estão os ex-ministros
de Bolsonaro: general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança
Institucional – GSI), general Braga Netto (Casa Civil e Defesa),
Anderson Torres (Justiça) e o ex-comandante do Exército Paulo
Sérgio Nogueira, que é acusado de ter comandado a investida do
Exército contra as urnas eletrônicas.
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, também foi alvo de busca e apreensão. Na lista estão ainda o almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha, e o general Estevam Theophilo Gaspar. Ligado a Paulo Nogueira, ele foi o chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército no governo Bolsonaro. Além dos mandados de prisão preventiva contra Felipe Martins e Marcelo Câmara, um outro assessor, Rafael Martins, major das Forças Especiais do Exército, foi alvo de mandado.
As medidas foram autorizadas pelo ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, no âmbito do inquérito
das milícias digitais. Na decisão, Moraes relata que a PF está de
posse de vídeo de uma reunião ministerial de Bolsonaro realizada em
5 de julho de 2022, a três meses das eleições, ocasião em que ele
e auxiliares discutem cenários golpistas. O vídeo, segundo o
inquérito, estava armazenado em computador apreendido com Mauro Cid.
Segundo a PF, as investigações apontam que o grupo
investigado se “dividiu em núcleos de atuação para disseminar a
ocorrência de fraude nas Eleições Presidenciais de 2022, antes
mesmo da realização do pleito, de modo a viabilizar e legitimar uma
intervenção militar, em dinâmica de milícia digital”.
Depois
disso, o grupo teria desenvolvido atos concretos para “subsidiar a
abolição do Estado Democrático de Direito, através de golpe de
Estado, com apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças
especiais no ambiente politicamente sensível”. Os mandados foram
cumpridos no Amazonas, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, em
Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, no Paraná, Rio de Janeiro
e em São Paulo.
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