Petrobras agiu 6 vezes para protelar compensação ambiental no Amazonas
A Petrobras agiu por seis vezes, pelo menos, para protelar o pagamento de compensação ambiental devida em razão da tentativa de exploração de petróleo na bacia Foz do Amazonas. O projeto acabou abandonado após acidente, o que não anulou a obrigação da compensação. O valor original da dívida era de R$ 140 mil.
Documentos obtidos pela
reportagem, parte deles por meio da Lei de Acesso à Informação,
detalham a estratégia protelatória da estatal nos anos de 2014,
2016, 2017, 2019 e 2021. A ofensiva teve êxito. O processo se
arrasta por mais de nove anos e, até hoje, a compensação não foi
depositada, cujo valor atualizado está em R$ 282 mil.
A empresa e o governo Lula
(PT) manifestam o desejo de explorar outro bloco, com possibilidade
de impacto negativo no ambiente ainda maior, conforme cálculo do
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama), o que, portanto, exige o desembolso de
compensação ainda mais alta: R$ 4,3 milhões. Os ofícios da
Petrobras para tentar escapar do pagamento foram enviados ao Ibama,
responsável pelo cálculo do grau de impacto do empreendimento e
pela definição do valor da compensação, e ao Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), destinatário dos
recursos.
Os motivos para protelar o depósito, apresentados
pela estatal, foram os mais diversos: falta de obrigatoriedade de
pagar uma compensação em casos de perfuração para prospecção de
petróleo, necessidade de análise por um órgão hierárquico
superior, limitações na tramitação interna de processos e
discordância do critério para atualização monetária. Em nota, a
Petrobras afirmou que não protela o pagamento e que a destinação
dos recursos foi definida em 2018, na Câmara de Compensação
Ambiental e Florestal. “Somente em junho de 2023, o Ibama definiu a
taxa de atualização monetária do valor de pagamento e, com isso,
em dezembro de 2023, o ICMBio disponibilizou a versão final do termo
de compromisso para assinatura.”
A assinatura do documento
ocorreu no último dia 15, segundo a estatal. A empresa disse que o
valor será pago em abril, após publicação do índice de
atualização. O destino do dinheiro deve ser o Parque Nacional do
Cabo Orange, que fica na região de Oiapoque (AP). A reserva é uma
importante e delicada área de conservação de mangues e campos
inundáveis.
O bloco na bacia Foz do Amazonas em questão é o
FZA-4, que fica a uma distância de 110 a 126 km da costa do Amapá.
Em dezembro de 2011, durante atividade de perfuração do bloco, um
acidente resultou em danos em equipamentos e em vazamento de óleo
hidráulico. A Petrobras abandonou o projeto de vez em 2016, mas
prosseguiu com a protelação do pagamento da compensação
ambiental.
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