Litígio CE x PI: 87,5% dos moradores preferem ficar no Ceará
O Governo do Ceará apresentou nessa terça-feira (20) o resultado de uma pesquisa que pode ser crucial na defesa do Ceará no caso do processo que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) em que o Piauí reivindica territórios cearenses. No estudo, pesquisadores foram à região do litígio entre os dois estados para avaliar a percepção dos moradores quanto ao sentimento de pertencimento e aos serviços públicos.
O trabalho foi desenvolvido por grupo de
trabalho criado pelo governador Elmano de Freitas (PT), com
coordenação da Procuradoria-Geral do Estado (PGE), e realizado pelo
Comitê de Estudos de Limites e Divisas Territoriais da Assembleia
Legislativa do Ceará (Celditec) e Instituto de Pesquisa e Estratégia
Econômica do Ceará (Ipece).
A pesquisa revelou que 87,5%
da população da área do litígio gostaria de estar no Ceará, caso
fosse preciso escolher, contra 12,5% que disse preferir o
Piauí.
Segundo o analista de políticas públicas do
Ipece e um dos autores da pesquisa, Cleyber Nascimento, os que
preferem o Ceará estão majoritariamente em toda a área do litígio.
Já aqueles que preferem o Piauí estão, em sua maioria, em áreas
já administradas pelo estado vizinho. A pesquisa mostrou também que
a razão dessa preferência é justamente a identidade e o vínculo
cultural que os moradores possuem.
O estudo apontou que 81,8%
dos entrevistados nasceram no Ceará contra 17% no Piauí. Outro dado
é que 92,6% dos moradores afirmaram que suas propriedades estão em
território cearense. Quanto ao uso dos serviços públicos, 96,6%
disseram que utilizam escolas públicas do Ceará e 89% informaram
que procuram atendimento de saúde em unidades cearenses.
A
pesquisa foi realizada em 417 domicílios de 84 localidades,
percorrendo as regiões do Sertão de Crateús e da Serra da
Ibiapaba. Os pesquisadores fizeram entrevista pessoal com os
moradores e mapearam os equipamentos públicos, ilustrando a posse do
território e que a população local tem sido atendida pelo Estado
do Ceará. Os dados foram coletados no primeiro semestre de
2023.
“Nós vimos as pessoas nas comunidades, conversamos com
as pessoas. Fomos mais para trazer à sociedade cearense (…) o que
pensa o pessoal dessas áreas. Eles estavam, de certa forma, não
sendo ouvidos. Então passamos a ouvir muitos depoimentos sobre essa
cearensidade”, disse Luís Carlos Mourão, coordenador do Celditec,
um dos responsáveis pelo trabalho.
Os dados levantados
por essa pesquisa serão adicionados a outros elementos a favor do
Ceará no caso do litígio. Para o procurador-geral do Ceará, Rafael
Machado, a pesquisa “humaniza” o processo, destacando a vontade
da população como fator para análise no julgamento que será feito
pelo STF.
“Nós temos um argumento que é incontestável: o
sentimento de pertencimento da população”, disse. “A
importância dessa pesquisa é justamente para que a gente conduza o
resultado desse processo de forma justa, levando em consideração o
aspecto humano. Essa pesquisa será levada ao Supremo Tribunal
Federal para que justamente tenha a sensibilização e a compreensão
de toda a importância que tem que ser levado em consideração todas
as variáveis desse processo”, completou.
O litígio
Em
2011, o Piauí ingressou com uma Ação Cível Originária no STF
questionando partes do território do Ceará. A área pleiteada pelo
Piauí totaliza quase 3 mil km², envolvendo 13 municípios
cearenses. No ano seguinte, o IBGE realizou um trabalho técnico por
solicitação da Advocacia Geral da União (AGU) para delimitação
da divisa em uma área piloto, abordando em sua metodologia a análise
histórica-documental, aspectos sociais, geográficos, culturais, e
trabalho de campo.
Em 2016, o Ministro Dias Toffoli
designou que o Exército Brasileiro, por meio da Diretoria de Serviço
Geográfico (DSG), realizasse perícia técnica para a delimitação
da divisa. Esse trabalho é acompanhado por grupos instituídos pelos
governos dos dois estados. A previsão de término da perícia é no
mês de maio de 2024.
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