Fala sobre minuta golpista pesa contra Bolsonaro
A fala do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre a minuta golpista durante ato na Avenida Paulista, em São Paulo, no domingo (25) pesa contra o político, mas as autoridades podem optar ou não por chamá-lo para novo depoimento, afirmam especialistas. Na manifestação, Bolsonaro reconheceu a existência da minuta, mas negou que tenha havido tentativa de golpe de Estado depois da eleição do presidente Lula (PT).
Antes da manifestação desse fim de semana, a
estratégia de defesa do ex-presidente era negar que o político
soubesse da existência do documento. Para a Polícia Federal (PF),
as declarações de Bolsonaro reforçam a linha de investigação de
que a trama golpista realmente ocorreu. Depois da repercussão, Paulo
Cunha Bueno, advogado de Bolsonaro, afirmou, nessa segunda-feira
(26), que o ex-presidente fazia referência a um texto recebido em
2023, após a saída dele do governo.
“[A]
declaração do presidente foi em cima da minuta que ele só teve
conhecimento em outubro de 2023. Não reforça em nada a
investigação, porque foi a primeira minuta que ele viu. Não tinha
visto antes”, disse Bueno.
Além de citar a minuta,
Bolsonaro defendeu não ter havido tentativa de golpe porque isso
requer “tanque na rua”, “arma”, “conspiração”. O
discurso de que não haveria tentativa de ataque à democracia pela
inexistência de violência foi replicado por outros apoiadores na
data da manifestação, como o pastor Silas Malafaia, que foi o mais
crítico contra o Supremo Tribunal Federal (STF). “O que é golpe?
É tanque na rua, é arma, conspiração. É trazer classes políticas
para o seu lado, empresariais. É isso que é golpe. Nada disso foi
feito no Brasil. Agora o golpe é porque tem minuta de decreto de
estado de defesa. Golpe usando a Constituição? Tenham a santa
paciência”, afirmou Bolsonaro no domingo.
Especialistas
ouvidos pela reportagem argumentam que a fala de Bolsonaro sobre a
minuta foi a mais delicada ocorrida na manifestação. O evento foi
acompanhado com atenção pelo histórico de ataques à democracia
dos atos bolsonaristas e pela investigação sobre eventual
participação em tentativa golpista pelo ex-presidente.
Henderson
Fürst, professor de Direito Constitucional da PUC/Campinas, afirma
que a fala poderia ensejar convocação das autoridades para a
elucidação sobre o que o político quis dizer, porque Bolsonaro
ficou calado quando intimado para falar na PF, na última
quinta-feira (22), sobre a possível trama golpista. “A fala dele
não nega a minuta. Ele valida a minuta dizendo que ela não era um
ato golpista porque respeitava, inclusive, a própria Constituição”,
diz Fürst.
Segundo Diego Nunes, professor de história do
Direito Penal da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a
convocação pode ser feita pelas autoridades caso elas achem
necessário, mas pode também haver a dispensa de novo depoimento e
juntada da fala como prova. Para Pedro Serrano, professor de Direito
Constitucional da PUC/SP, a declaração de Bolsonaro pode pesar nas
investigações atuais e o político deveria ser convocado para
prestar novos esclarecimentos. “Bolsonaro manifestou livremente,
numa praça pública, quase a confissão do cometimento de um
ilícito. Ele forneceu um forte indício para a polícia de que
realmente participou de uma atividade golpista.”
Para
Marina Coelho Araújo, professora de Direito Penal do Insper, uma
nova solicitação de depoimento a Bolsonaro não é necessária,
porque o político já disse que permaneceria calado. “Autoridades
têm que fazer uma análise das provas coletadas, do que já foi
quebrado de sigilo e do que existe de elementos, e não esperar qual
vai ser a explicação dele sobre a questão.”
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