segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Estratégia de Bolsonaro é frear esquerda nas capitais


O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) indicou que deve atuar com praticidade e realismo nas eleições para as prefeituras das capitais, traçando o que ele chamou de estratégia “jogo de War”, em referência ao jogo de tabuleiro de estratégia de guerra e que pode incluir objetivos diferentes de cada participante e para cada região. Ou seja, com apoio a nomes competitivos de outros partidos para frear candidaturas de aliados do presidente Lula (PT).

Bolsonaro confirmou apoio à reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo, movimento que impôs a desistência do deputado federal Ricardo Salles (PL), classificado pelo ex-presidente como “candidato do coração”. Diante da aliança, o coronel Mello Araújo (PL), ex-comandante da Rota e nome de confiança de Bolsonaro, pode ser indicado para o vice na chapa liderada por Nunes, que deve comparecer ao ato convocado pelo ex-presidente na Avenida Paulista no próximo domingo (25) em meio às investigações da Polícia Federal (PF) sobre a suposta atuação em golpe de Estado.

O PL também desistiu da corrida pela Prefeitura de Natal e selou apoio ao deputado federal Paulinho Freire (União) com a promessa de unificar a direita na Capital potiguar em torno de uma única candidatura. O Partido Liberal ensaia movimentos semelhantes em capitais como Salvador, Florianópolis e Campo Grande com aliados que disputam a reeleição. Em Porto Alegre, a aliança já foi firmada.
Em transmissão pela internet no fim de janeiro, Bolsonaro pregou “estratégia e paciência” na definição das candidaturas e destacou que os partidos de direita não devem se dividir onde houver possibilidade de vitória do PT e partidos aliados de Lula. “A ideia é lançar candidatos no maior número possível de municípios, ter candidatos nas capitais. Em algumas não vai ser possível, vamos partir para uma negociação fazendo da melhor maneira possível. A gente tá jogando War aqui, pessoal”, disse.
Um dos entraves para o avanço das articulações tem sido a proibição de contato entre Bolsonaro e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, após determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, no dia 8 de fevereiro. Os dois políticos são investigados no STF sob suspeita da prática do crime de tentativa de golpe de Estado.

O PL não elegeu prefeitos nas capitais na eleição de 2020, assim como o PSL, partido ao qual Bolsonaro era filiado na época. Atualmente, o único prefeito de capital do PL é João Henrique Caldas, o JHC, que se filiou ao partido em 2022 após deixar o PSB. Ele comanda Maceió.
Dessa vez, o PL vai para as eleições municipais com meta ousada de eleger mil prefeitos e deve ter candidato próprio em ao menos 14 capitais. Mas a ordem é buscar consensos com outros partidos de direita e tentar consolidar base sólida para pavimentar as eleições de 2026.

Esse deve ser o caminho nas capitais dos Estados do Sul. Em Porto Alegre, o PL tem o vice-prefeito Ricardo Gomes, que deve repetir a dobradinha com o prefeito Sebastião Melo (MDB), candidato à reeleição. A tendência é de disputa polarizada na Capital gaúcha com o PT, que prevê a candidatura da deputada federal Maria
do Rosário.
Em Florianópolis, o PL articula possível indicação do candidato a vice do prefeito e candidato à reeleição Topázio Neto (PSD), que é considerado favorito e ampliou a base nas últimas semanas com o apoio do MDB e Republicanos. O cenário é mais nebuloso em Curitiba, onde aliados de Bolsonaro e do governador Ratinho Júnior (PSD) seguem divididos em mais de uma candidatura. Uma eleição suplementar para o Senado, em caso de cassação do senador Sergio Moro (União) na Justiça Eleitoral, pode mexer no tabuleiro municipal.

Entre as capitais do Nordeste, Natal e Salvador têm negociações mais avançadas. Em Natal, o deputado General Girão (PL) se retirou da disputa após articulação do senador Rogério Marinho (PL) para unir a direita. Os aliados de Lula, por outro lado, se dividem em ao menos três pré-candidaturas.
Em Salvador, o PL sinaliza aliança com o prefeito e candidato à reeleição Bruno Reis (União). Os partidos ainda afinam os detalhes da parceria, que caminha para ser selada em março. A ideia é firmar a aliança ainda no primeiro turno para se contrapor à candidatura do vice-governador Geraldo Júnior (MDB), que unificou a base do governador Jerônimo Rodrigues (PT). Neste cenário, o PL deve centrar forças na eleição de vereadores em Salvador e prefeitos no interior do Estado.

Também há negociações em andamento para unificar o campo bolsonarista em capitais como Campo Grande, onde PP e PL têm pré-candidatos, e Boa Vista, em que aliados do ex-presidente articulam convergência em torno do nome da deputada estadual Catarina Guerra (União).
Na rota contrária, o partido deve partir para estratégia de candidatura própria no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte, Manaus, Belém e no Recife. No Rio, o PL dobrou a aposta na candidatura do deputado federal Alexandre Ramagem, alvo de investigação por suposto esquema de espionagem ilegal. A aliança em torno de Ramagem é articulada pelo governador Cláudio Castro (PL), que sondou partidos aliados para apoiá-lo contra o prefeito Eduardo Paes (PSD). Um dos entraves é o MDB, que insiste na candidatura do deputado federal Otoni de Paula.

O PL cobra reciprocidade ao apoio a Ricardo Nunes em São Paulo. Em capitais como Manaus, Belém e João Pessoa, a disputa é dentro do próprio PL, com mais de um pré-candidato à prefeitura no partido.
Na capital do Amazonas, dois militares disputam a indicação: o deputado federal Capitão Alberto Neto e o Coronel Alfredo Menezes. Ambos têm um acordo e podem compor uma chapa pura. Em Belém, o deputado federal Delegado Eder Mauro e o delegado da PF, Everaldo Eguchi, candidato a prefeito derrotado em 2020, disputam a indicação para concorrer contra o prefeito Edmilson Rodrigues (Psol).
O panorama em João Pessoa é mais crítico, já que há um descompasso entre a cúpula e parte das bases do partido. O PL definiu como candidato o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga, nome que sofre resistência da ala mais radical do bolsonarismo. O comunicador Nilvan Ferreira (PL), que foi o segundo colocado na eleição de 2020 e pleiteava nova candidatura, anunciou desistência no último dia 2, tecendo críticas ao partido.

Em outras capitais do Nordeste, o cenário é visto como adverso. No Recife, o ex-ministro do Turismo Gilson Machado Neto (PL) enfrentará o prefeito João Campos (PSB), favorito à reeleição. O PL de Pernambuco avalia que a candidatura é importante para disseminar o nome de Gilson no eleitorado de olho na disputa para o Senado em 2026, em caso de derrota na eleição municipal.

Fortaleza
Em Fortaleza, o PL lançou o deputado federal André Fernandes, mas o parlamentar não descarta a possibilidade de aliança com o ex-deputado Capitão Wagner (União), derrotado duas vezes para a Prefeitura de Fortaleza e candidato a governador mais votado na Capital nas eleições de 2022. Um dos temores da direita no Ceará é a possibilidade de divisão do eleitorado, que pode deixar os aliados de Bolsonaro fora do segundo turno. Isso porque a esquerda também vai para a disputa dividida, com candidaturas do prefeito Sarto Nogueira (PDT) e do PT, que comanda o governo estadual.


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