sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

 Bolsonaro silencia em depoimento à PF sobre trama golpista

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ficou em silêncio durante o depoimento à Polícia Federal (PF) sobre os planos discutidos no fim de 2022 para golpe de Estado contra a eleição de Lula (PT) à Presidência da República. A estratégia de se manter calado havia sido antecipada pela defesa dele.

Os advogados alegam que não tiveram acesso a todos os documentos obtidos pela investigação, como os depoimentos do ex-ajudante de ordens Mauro Cid no âmbito da delação premiada. A defesa do ex-presidente pediu três vezes ao Supremo Tribunal Federal (STF) para adiar a sessão.
O ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, negou os três pedidos. Na primeira decisão, Moraes disse que a Constituição Federal “consagra o direito ao silêncio e o privilégio contra a autoincriminação”. No entanto, “não o ‘direito de recusa prévia e genérica à observância de determinações legais’ ao investigado ou réu, ou seja, não lhes é permitido recusar prévia e genericamente a participar de atos procedimentais ou processuais futuros, que poderão ser estabelecidos legalmente dentro do devido processo legal.”
Bolsonaro chegou à sede da PF em Brasília por volta das 14h20 de ontem. O depoimento estava previsto para começar às 14h30. Com a decisão de Bolsonaro de se manter em silêncio, o depoimento foi encerrado pouco depois. Ex-ministros, ex-assessores, militares e aliados também foram intimados a prestar esclarecimentos à PF no mesmo horário. No total, serão 23 pessoas, 13 somente em Brasília.
Assim como Bolsonaro, os oficiais-generais Braga Netto, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Almir Garnier ficaram em silêncio. As defesas deles alegam que não tiveram acesso à íntegra dos documentos apreendidos pela PF, como os anexos da delação de Mauro Cid.
A PF investiga as tratativas por golpe de Estado desde que encontrou na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, em janeiro de 2023, minuta de decreto para que Bolsonaro determinasse estado de defesa na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O objetivo seria reverter o resultado da eleição, segundo os investigadores.
Com a delação de Mauro Cid e as provas obtidas em outras operações, a PF chegou à conclusão de que Bolsonaro teve acesso a versões da minuta golpista (não exatamente a mesma que estava com Torres). De acordo com as investigações, ele chegou a pedir modificações no texto e apresentar a proposta aos chefes militares, para sondar possível apoio das Forças Armadas.
A primeira versão do texto teria sido apresentada a Bolsonaro pelo então assessor de assuntos internacionais, Filipe Martins, e pelo padre José Eduardo de Oliveira e Silva durante reunião no Palácio da Alvorada, em 19 de novembro de 2022. Segundo a PF, o jurista Amauri Feres Saad também teria participado das discussões sobre a minuta golpista que foi apresentada a Bolsonaro, participando de reuniões posteriores.
Não simpático a golpe
O advogado de Bolsonaro, Paulo Bueno, disse ontem que Bolsonaro nunca foi simpático a movimento golpista. “O presidente fez o silêncio, como a defesa antecipou. Esse silêncio, quero deixar claro, não é simplesmente o uso do direito constitucional, mas estratégia baseada no fato de que a defesa não teve acesso a todos os elementos que estão sendo imputados ao presidente a prática de certos delitos.”
Sentido oposto
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o ex-ministro da Justiça Anderson Torres destoaram de Bolsonaro e outros aliados e responderam às perguntas da Polícia Federal (PF) durante depoimento nessa quinta-feira (22) referente às investigações sobre os planos para golpe de Estado. Valdemar deixou a sede da PF, em Brasília, por volta das 17h15. Segundo a defesa do político, ele “respondeu todas as perguntas que lhe foram feitas”. Os advogados, porém, decidiram não fazer comentários sobre as apurações.
O mesmo fez Anderson Torres, cuja decisão do ex-ministro de não silenciar diante da PF já havia sido anunciada pela defesa. “[Anderson] reafirma, assim, sua disposição para cooperar com as investigações e esclarecer toda e qualquer dúvida que houver, pois é o maior interessado na apuração isenta dos fatos”, disse o advogado Eumar Novacki.

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