quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

 

Print de conversa de assessora tem data em que Ramagem já era ex-Abin

A conversa usada pela Polícia Federal (PF) para apontar o uso de estrutura paralela na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos/RJ) traz data em que Alexandre Ramagem (PL/RJ) já não era mais diretor-geral da Abin. Os investigadores sustentaram o pedido de busca e apreensão contra o filho de Jair Bolsonaro (PL) na captura de tela de diálogo pelo WhatsApp em que uma assessora de Carlos envia o nome de uma delegada da PF e a identificação do que seriam inquéritos envolvendo a família do então presidente.

O aplicativo de conversas exibe a data “ter., 11 de out.” na mensagem em que a assessora do vereador, Luciana Almeida, diz estar “precisando muito de ajuda”. Em seguida, com a data “Hoje” ela envia os números dos inquéritos. Não é possível saber quando é o “Hoje”, mas, nos últimos sete anos, o dia 11 de outubro caiu em uma terça-feira somente em 2022. Naquele ano, nessa data, Ramagem já tinha deixado o comando da Abin havia seis meses para disputar a eleição a deputado federal.

No parecer em que concorda com a maioria das medidas pedidas pela PF, a Procuradoria-Geral da República (PGR) também se refere a Ramagem como “então diretor-geral da Abin”. Para o lugar dele, Ramagem indicou o oficial de inteligência Victor Felismino Carneiro.
Além disso, o diálogo anterior, datado de “dom., 9 de out.”, indica que a conversa teria ocorrido entre o primeiro e o segundo turnos da última eleição presidencial. A decisão assinada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, com base no relatório policial e na manifestação da PGR, cita que a troca de mensagens mostrava pedido de ajuda ao “então diretor-geral da Abin” sobre o andamento de inquéritos “em unidades sensíveis da Polícia Federal”.

Apesar de, como divulgado até o momento, não ser possível saber o tempo decorrido entre o pedido de ajuda (11 de outubro) e a mensagem com os números de inquéritos (“Hoje”), a investigação vinculou as duas situações. Investigadores da PF afirmam que a peça policial não cita Ramagem como “então diretor-geral da Abin”, mas que o trata apenas como “delegado Alexandre Ramagem”.
Eles dizem ainda que o fato de ele não estar no comando do órgão no momento da troca de mensagens em nada muda a suspeita de que ele tenha repassado informações sigilosas à família Bolsonaro. A PF, de acordo com investigadores, diz haver vários atos que demonstrariam a prestação de serviço de Ramagem à família presidencial, alguns enquanto era diretor da Abin e outros fora do cargo.
Carlos Bolsonaro foi alvo da terceira fase das investigações sobre o caso de uso indevido do órgão federal. Além da questão da data, há ainda uma divergência sobre os envolvidos na troca de mensagens. Na decisão de Moraes, há menção de que o pedido da assessora de Carlos teria sido feito “através de Priscilla Pereira e Silva”, assessora de Ramagem.

Uma possível inferência, a partir do registro de tela, no entanto, é a de que a troca de mensagem de Luciana Almeida se daria com Ramagem. Ela usa a expressão vossa senhoria e deseja sucesso na nova etapa da vida. A resposta: “Muito obrigado [no masculino]. (…) Agora vamos eleger nosso presidente Bolsonaro”.
Naquela data, o ex-Abin já tinha sido eleito deputado federal e apoiava a reeleição do então presidente. Já a PGR afirma que a mensagem foi enviada diretamente para Ramagem e, por isso, se manifestou contra a busca nos endereços da assessora do ex-diretor-geral. Moraes discordou e manteve Priscilla entre os alvos da operação. Procurados, PF, PGR e STF não responderam até o fechamento desta edição.
Depoimento
Carlos Bolsonaro permaneceu ontem (30) durante 40 minutos na sede da PF no Rio de Janeiro, localizada no Centro da Capital fluminense. O vereador chegou por volta das 10h, acompanhado do advogado, Antônio Carlos Fonseca, e deixou o local às 10h40. Antes de ir à Superintendência da PF, ele disse em rede social que o motivo do depoimento foi uma postagem feita por ele em 2023, conforme a Agência Brasil.

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