segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

 

PF e Abin fizeram diligência sobre software espião

Apesar de nos bastidores estarem em embate, a Polícia Federal (PF) e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) fizeram uma ação conjunta durante as apurações sobre o uso do software espião pela gestão de Jair Bolsonaro (PL). Em 10 de maio de 2023, integrantes da PF e da Abin se reuniram com a empresa Cognyte, fabricante do sistema israelense FirstMile, e formalizaram em ata procedimentos para a recuperação e repasse de dados do uso da ferramenta pela Agência.


De acordo com dados compilados da comissão de sindicância investigativa instaurada pela Abin, e obtidos pela reportagem, o encontro resultou na entrega pela empresa à PF e à Agência de pendrives com as informações recuperadas. Em manifestação ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, a Polícia Federal acusa a atual gestão da Abin de dificultar as investigações e promover “conluio” interno para livrar servidores da punição.

A corporação cita uma reunião da cúpula da Abin já durante o governo Lula (PT) com servidores em que o número 2 da Agência, Alessandro Moretti, teria dito que o caso tinha fundo político e iria passar. A Abin nega e diz ter colaborado desde o primeiro momento com as investigações.
Integrantes da PF dizem nos bastidores acreditar que os indícios levantados na operação deflagrada na quinta-feira (25) mostram a necessidade de troca no comando da Abin. As duas instituições têm se estranhado desde o começo do atual governo petista.

O FirstMile é o software adquirido pela Abin no final da gestão Michel Temer (2016/2018) e que começou a ser usado sob Bolsonaro, tendo ficado em operação de 2019 a 2021. Atualmente, o sistema é alvo de investigação da PF que suspeita de uso pela gestão Bolsonaro para espionagem ilegal de adversários políticos. O software fornece a localização aproximada das pessoas por meio dos sinais enviados por aparelhos às antenas de telefonia celular. Segundo pessoas com conhecimento da ferramenta, ela não acessa conteúdos de ligação ou de trocas de mensagem.

Apesar de a Agência de Inteligência ter registro de parte dos números de telefones monitorados na gestão bolsonarista, a grande precariedade do controle sobre a ferramenta levou à PF e à Abin a buscar recuperação de dados na própria empresa. Duas operações solicitadas pela PF e autorizadas por Moraes já foram realizadas, em outubro passado e na última quinta-feira.
Em meio a essa última, o diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, convocou reunião de diretoria, o que foi visto pela PF como tentativa de atrapalhar a investigação já que, entre outros pontos, estava sendo cumprido mandado de busca e apreensão inclusive na sede da Agência, em Brasília. Após o jornal O Globo revelar a suspeita de uso ilegal do software, em março de 2023, a PF abriu inquérito e a Abin também instaurou comissão de sindicância investigativa.

A sindicância teve por objetivo formal aprofundar as apurações internas feitas pela Agência ainda na gestão Bolsonaro, mas que tinha concluído apenas que faltavam normas claras de utilização da ferramenta, além de não haver mecanismos eficazes de registro do uso. Durante a sindicância aberta pela atual gestão da Abin, foram ouvidos 69 servidores e ex-servidores, totalizando 79 depoimentos tomados.
A Abin ainda expediu informações à PF por meio de 11 ofícios, além de outros três enviados ao STF. A Agência diz que jamais deixou de fornecer informações, nem houve atraso. E também afirma que a PF jamais formalizou qualquer tipo de queixa de falta de resposta ou de tentativa de obstrução. Procurada, a PF disse que não comenta investigações em andamento.

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