quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Defesa diz que deixará caso após delação de Lessa

O advogado Bruno Castro afirmou que desconhece a delação firmada pelo cliente dele, o ex-policial militar Ronnie Lessa, no caso que investiga o mandante da morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Apontado como assassino da parlamentar, o preso escolheu outro advogado para representá-lo nesta nova fase das investigações.

Castro disse que deixará a defesa assim que for informado sobre o acordo de delação. “Por ideologia jurídica não atuamos para delatores.” Lessa está preso desde março de 2019 e passou a negociar colaboração premiada no fim do ano passado. O caso está no Superior Tribunal Federal (STJ) e ainda não foi homologado. Para isso, é preciso que os investigadores comprovem o que foi dito pelo ex-PM no acordo.

Marielle e Anderson foram mortos em 14 de março de 2018 ao terem o carro atingido por tiros enquanto passavam pelo Bairro Estácio, no Rio de Janeiro. Junto com Lessa, também foi preso o ex-PM Élcio de Queiroz, apontado como o motorista do veículo utilizado no crime.
Quando Queiroz firmou o acordo de colaboração, no ano passado, ele trocou de advogado sem comunicar à defesa original. As investigações da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público apontaram que o então advogado de Queiroz, Henrique Santanna, era pago por Lessa.
Ao saber da delação, Santanna deixou oficialmente a defesa de Élcio, que foi assumida pela advogada Ana Paula Cordeiro. Na ocasião, assim como Castro, Santanna também disse ter sido pego de surpresa. Ele também negou que fosse pago por Lessa, amigo há décadas de Queiroz.

À reportagem, Castro disse que a família de Lessa não foi informada sobre o acordo de delação do ex-PM. O advogado afirmou que, durante o período em que representou o réu, o preso nunca mostrou interesse em fazer colaboração. No entanto, ele declarou que sabia quem era responsável pela morte de Marielle, mas que, se falasse, a família dele ficaria em perigo.

“A única coisa que ele me disse, há uns dois ou três anos, é que ele sabia quem tinha matado a Marielle. Mas afirmou que, se falasse, a família dele morreria. Acho que ele nunca comentou [sobre o interesse de fazer a delação] por saber que meu escritório não faz esse tipo de acordo.”
A preocupação com a família também foi uma questão para Queiroz quando firmou a colaboração dele. Uma das contrapartidas pedidas por ele foi que os parentes passassem a ter segurança reforçada. Queiroz também foi transferido de presídio após a colaboração. Ele estava no presídio federal em Brasília e foi para o Complexo Penitenciário da Papuda, também no Distrito Federal.

O advogado de Lessa afirmou que prefere ainda não confirmar que houve a delação do cliente, pois ele próprio não foi informado oficialmente. Lessa está no presídio federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Castro disse que ainda não teve contato com o ex-PM desde que veio à tona que ele está colaborando com as investigações.

Por ele estar em penitenciária de segurança máxima, as comunicações com o preso devem ser solicitadas à direção do presídio e há prazo para que elas sejam deferidas. O advogado declarou que ainda não fez o pedido. “Acredito que ele tenha mais a explicar à família do que ao advogado.”
As delações são uma aposta da PF para solucionar o caso, já que muitas das provas se perderam ao longo dos quase seis anos de investigação. A delação que Queiroz fez o caso avançar e possibilitou a prisão do ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, conhecido como Suel, como uma das pessoas que participaram da campana para monitorar Marielle.
Após o depoimento do ex-PM, os investigadores chegaram a novas suspeitas de envolvimento de Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio, que sempre negou qualquer ligação com o crime.

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