Camilo
pode ter sido alvo da Abin
O caso é investigado pela Polícia Federal (PF), que apura se, naquela época, a
Abin utilizou o software espião FirstMile e produziu relatórios sobre ministros
do Supremo Tribunal Federal (STF) e políticos adversários de Bolsonaro. As
autoridades teriam sido alvos de uma estrutura paralela dentro da Abin,
integrada por policiais federais e oficiais de inteligência próximos ao então
diretor da agência, Alexandre Ramagem.
No caso de Camilo, a suposta espionagem teria ocorrido enquanto o petista ainda
estava no comando do Governo do Estado. De acordo com a PF, em 2021, um drone
operado por integrantes da Abin teria sido usado para sobrevoar a residência
oficial do então governador, em Fortaleza. A Abin instaurou um processo
administrativo na época, mas o caso acabou arquivado.
As informações estão na decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que
autorizou a operação Vigilância Aproximada, deflagrada pela PF nessa
quinta-feira (25). Essa operação investiga uma “organização criminosa que se
instalou na Abin com o intuito de monitorar ilegalmente autoridades públicas e
outras pessoas, utilizando-se de ferramentas de geolocalização de dispositivos
móveis sem a devida autorização judicial”.
A ação é um desdobramento da operação Última Milha, deflagrada em outubro de
2023 para investigar o uso do FirstMile. Nessa nova fase, o foco principal são
policiais que atuavam na Abin, em especial no Centro de Inteligência Nacional
(CIN), estrutura ligada ao gabinete de Ramagem na agência durante o governo
Bolsonaro.
Ao todo, sete policiais federais são alvos da ação e foram afastados dos cargos
públicos.
Foram colocados em cargos de chefia no CIN servidores da agência e policiais
federais próximos à Ramagem e da família Bolsonaro, o que fez com que ele fosse
apelidado de “Abin paralela”.
Além de Ramagem, que hoje é deputado federal pelo PL, ao menos dois agentes da
PF, Marcelo Araújo Bormevet e Felipe Arlotta Freitas, que atuavam no CIN, são
alvos das medidas dessa quinta-feira.
Segundo a PF, as provas coletadas na primeira fase da operação mostram que “o
grupo criminoso criou uma estrutura paralela na Abin e utilizou ferramentas e
serviços daquela agência de inteligência do Estado para ações ilícitas,
produzindo informações para uso político e midiático, para a obtenção de
proveitos pessoais e até mesmo para interferir em investigações da Polícia
Federal”.
Documentos em posse da PF indicam que funcionários da Abin lotados no CIN
utilizaram o software espião FirstMile durante o governo Bolsonaro. A
ferramenta invadia a rede de telefonia nacional.
O CIN tem origem em um decreto de Bolsonaro, assinado em julho de 2020, que
criou novas estruturas dentro do organograma da Abin, à época chefiada por
Ramagem. A justificativa para criação do CIN foi planejar e executar
“atividades de inteligência” destinadas “ao enfrentamento de ameaças à
segurança e à estabilidade do Estado” e assessorar órgãos competentes sobre
“atividades e políticas de segurança pública e à identificação de ameaças
decorrentes de atividades criminosa”. O Centro foi desmontado pela reestruturação
promovida pela atual direção da Abin, já no governo Lula (PT), após a operação
da PF que mirou o software espião.
Por meio de nota, Camilo lamentou que a Abin tenha sido utilizada “ilegalmente
no Governo anterior para perseguição de pessoas públicas”. O ministro disse
ainda que confia no trabalho da PF para apurar as responsabilidades, “de forma
a garantir a preservação do papel da Abin no fortalecimento do Estado
Democrático de Direito no Brasil”.
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