terça-feira, 19 de dezembro de 2023

 

Relação entre Lula e Lira continua tensa mesmo após cargos e verbas

O primeiro ano do terceiro mandato do governo Lula (PT) caminha para o fim com paradoxo na Câmara dos Deputados: ao mesmo tempo que o Palácio do Planalto conta com apoio de partidos que somam 370 dos 513 deputados, mais do que suficiente para aprovar emendas à Constituição, o petista encerrou a última semana com série de derrotas em votações. A inusitada aliança entre Lula e Arthur Lira (PP/AL), presidente da Câmara, começou a ser montada no mesmo dia do anúncio da vitória do petista sobre Jair Bolsonaro (PL), em 2022. O desenrolar de 2023 mostrou, porém, que a dobradinha continua marcada por desconfiança, críticas e tensões de lado a lado. Apesar da vitória com a reforma tributária, houve a derrubada pelo Congresso de vetos de Lula ao marco temporal das terras indígenas, à desoneração da folha de pagamentos e à lei que muda as regras de funcionamento do Conselho Administrativo de Recursos Fazendários (Carf). O próprio presidente da República expôs nesse sábado (16), em São Paulo, as dificuldades no Legislativo, apesar dos cargos e das verbas a partidos aliados. Classificou a aprovação da reforma tributária como “fato histórico” em um Congresso em que o Executivo tem minoria. Aliados de Lira afirmam que todas as caneladas dadas pelo presidente da Câmara no governo têm explicação não em uma indisposição pessoal do parlamentar, mas no fato de que o governo acertou a distribuição de cargos e verbas do Orçamento, as chamadas emendas parlamentares, e não tem entregado o que prometeu. Na tradição congressual, o troco é dado principalmente nas votações em plenário. Já do lado do governo, em especial no PT, o discurso é o de que já foram entregues todos os anéis e até alguns dedos. As emendas parlamentares, por exemplo, ficarão em torno de R$ 50 bilhões no ano que vem, valor bem próximo do que o Executivo tem para investir livremente, R$ 70 bilhões. Além disso, dizem que o centrão quer, em resumo, voltar ao modelo Bolsonaro, quando o então presidente entregou a Lira e aliados praticamente toda a gerência direta da distribuição de cargos federais e das emendas parlamentares. Petistas do Congresso evitam criticar Lira em público. Avaliam que seria impossível Lula governar sem o apoio dele. Alguns ainda concordam em parte com as reclamações do líder do centrão. Segundo eles, ministérios como Saúde e Educação estão atravancando na burocracia o cumprimento dos acertos feitos entre a articulação política do Planalto e o Congresso. Há quem reclame abertamente da influência exercida pelo centrão. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), capitaneou resolução partidária que pintou o bloco mais ou menos como quase todos os petistas o definem nos bastidores.

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