Ultraliberal
Javier Milei rompe polarização na Argentina e é eleito presidente
O ultraliberal Javier Milei, 53, rompeu a polarização argentina, consolidou sua nova força política e foi eleito presidente do país neste domingo (19). Em eleições históricas, o “outsider” superou o ministro da Economia Sergio Massa, impondo ao peronismo sua quarta derrota em 40 anos de democracia.
Após uma ascensão meteórica na política, o economista e deputado
conseguiu 55,91% dos votos válidos, contra 44,08% do rival com 88% das urnas
apuradas. A participação foi de 76%, número abaixo dos índices registrados no
primeiro turno em outubro (77%) e acima do das eleições primárias em agosto
(69%).
Milei vai ocupar a Casa Rosada pelos próximos quatro anos a partir de 10
de dezembro, quando o país completa 40 anos ininterruptos de democracia. O
peronista Alberto Fernández, atual chefe de Massa, se despede do cargo
reprovado por oito em cada dez argentinos e levando a fama de presidente
ausente.
Agora, o libertário terá como principal desafio resolver a terceira
grande crise econômica vivida pela nação no período democrático, com uma
inflação de mais de 140% anuais, pesos que derretem nas mãos e a pobreza em
alta. Para isso, propõe medidas radicais como a dolarização e o fechamento do
Banco Central, alvo de críticas de diferentes lados.
Ele também pretende enxugar ao máximo a máquina pública, extinguindo
ministérios como Cultura, Mulheres e Ciência e Tecnologia e privatizando
grandes empresas estatais. Ainda não está claro o que ele fará com a ampla gama
de subsídios e programas sociais que hoje aliviam o bolso do argentino, cada
vez mais empobrecido.
O ultraliberal terá que colocar em prática suas promessas disruptivas
tendo apenas 38 dos 257 deputados e 7 dos 72 senadores de sua aliança A
Liberdade Avança no Congresso. Resta saber se o apoio da centro-direita do
ex-presidente Mauricio Macri e da ex-rival Patricia Bullrich na reta final das
eleições se traduzirá em governabilidade.
Restam dúvidas ainda sobre como será daqui para frente a relação com o
Brasil, maior parceiro comercial da Argentina. Enquanto candidato, Milei chegou
a dizer que sairia do Mercosul e não se reuniria com Lula (PT), a quem chamou
de comunista e corrupto, defendendo que as relações privadas entre empresas não
seriam afetadas.
A curto prazo, a vitória do libertário traz apreensão no país sobre o
que acontecerá a partir desta terça (21) com o dólar paralelo, que rege os
preços e a vida na Argentina -os mercados estarão fechados nesta segunda (20)
pelo feriado do Dia da Soberania Nacional.
Com a promessa da dolarização, é possível que haja uma nova corrida à
moeda americana, o que costuma fazer seu valor subir, os preços perderem a
referência, e a venda de muitos produtos duráveis ser paralisada. Diante desse
temor, os argentinos que podiam já encheram o colchão ou os cofres dos bancos
com a divisa nas últimas semanas.
Milei foi eleito neste domingo após uma campanha agressiva, com insultos
ao Papa Francisco, xingamentos aos adversários e negação da cifra de 30 mil
mortos e desaparecidos na ditadura militar, num país que tem a memória como
forte pilar. Após a vitória de Massa no primeiro turno, porém, ele foi se
moderando.
Passou a negar, por exemplo, que acabará com os subsídios, a educação e
a saúde públicas, como já defendeu não muito tempo atrás. Por outro lado,
preservou os fortes discursos contra o que chama de “casta política” há muitos
anos no poder, conseguindo atrair o eleitor irritado com o peronismo e o
kirchnerismo.
Milei passou grande parte da sua vida atuando como economista de
empresas privadas e professor universitário, mas irrompeu na cena pública ao
xingar políticos e defender suas ideias ultraliberais como comentarista na TV.
Viralizou nas redes sociais, foi eleito deputado nacional em 2021 e desde então
se catapultou à Presidência, que finalmente conquistou neste domingo.
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