quarta-feira, 29 de novembro de 2023

 

STF deve ter apenas uma mulher, após Lula ignorar diversidade

Após quase dois meses, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ignorando os apelos por diversidade, indicou nessa segunda-feira (27) o ministro da Justiça, Flávio Dino, para a vaga da ministra Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal (STF). O petista deve reduzir a representação feminina no STF, que passa a ter apenas uma mulher entre os 11 integrantes, a ministra Cármen Lúcia, que foi indicada por Lula em 2006, a escolha mais demorada dos dois primeiros mandatos dele.


Naquela ocasião, Lula fez movimento oposto ao de agora, ampliando a presença de ministras. Desde o primeiro semestre, o presidente sofreu pressão dos movimentos sociais pela indicação inédita de uma ministra negra ao Supremo e para manter a cadeira de Rosa com uma mulher. Mais uma vez, ele não cedeu aos apelos. No primeiro semestre deste ano, o presidente optou por Cristiano Zanin, que foi defensor do petista nos processos da operação Lava Jato e a quem chamou de amigo.
Antes de decidir pelo nome de Dino, Lula já havia dito que gênero e cor não seriam critérios para a indicação. Com isso, a representação feminina no STF fica em 9%, deixando o país como o segundo pior na América Latina, atrás apenas da Argentina, que não tem ministras. “Vemos como um retrocesso sem precedente, principalmente porque esse presidente fez toda a sua campanha com a bandeira de inclusão. É preciso lembrar que ele subiu a rampa com negros, crianças, pessoas trans, indígenas e quando tem a caneta na mão se posiciona de modo adverso, como se fosse outros governos ali que não tinham nenhum compromisso com essas pautas”, disse o presidente da Associação Nacional da Advocacia Negra (Anan), Estevão Silva.

O advogado afirmou ainda que a vaga destinada a Dino tem sido ocupada por uma mulher desde o ano 2000, quando o presidente Fernando Henrique Cardoso indicou a primeira mulher ao Supremo, a ministra Ellen Gracie, cuja cadeira foi assumida por Rosa Weber em 2011, única mulher das cinco indicações feitas por Dilma Rousseff.

A coordenadora política do Movimento Mulheres Negras Decidem, Tainah Pereira, destacou que a escolha decepciona, mas não surpreende, porque Lula nunca recebeu juristas negras e lideranças do movimento negro para discutir a indicação. “É muito emblemático do quanto é necessária uma compreensão maior por parte de lideranças à esquerda sobre a representatividade em cargos de poder de grupos sociais que historicamente estiveram alijados desses espaços.”

Agradecimento
Flávio Dino agradeceu nas redes sociais pelo reconhecimento e confiança. “O presidente Lula me honra imensamente com a indicação para ministro do STF. Agradeço mais essa prova de reconhecimento profissional e confiança na minha dedicação à nossa nação”, escreveu. A indicação ainda tem que ser aprovada pelo Senado Federal. Dino disse ainda que dialogará com os colegas para conseguir o apoio necessário. Ele foi eleito senador pelo Maranhão no ano passado e estava licenciado do cargo para chefiar o Ministério da Justiça.

É o primeiro ex-governador a ser indicado ao STF desde a Constituição de 1988. Embora a trajetória de passar pela política e depois migrar para o Supremo não seja inédita, a chegada de Dino ampliará a politização que tem marcado a mais alta Corte no país. Oriundo da magistratura, caso aprovado pelo Senado, ele retornará à carreira de origem sob a expectativa de que ocupe papel de protagonismo no Supremo.

Abaixo-assinado
O partido Novo lançou nessa segunda-feira (27) abaixo-assinado online contra a indicação de Flávio Dino ao STF. Em nota, o presidente do partido, Eduardo Ribeiro, disse que a indicação era a “pior possível” e afirmou que Dino era “omisso” diante da crise na segurança pública no país.

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