Rússia fecha aeroporto em região muçulmana após população ‘caçar’ judeus
Um aeroporto na cidade de Makhatchkala, no sul da Rússia, foi fechado
neste domingo (29) após um grupo de centenas de pessoas invadir o espaço,
afirmou a autoridade de aviação, a Rosaviatsia.
Relatos, fotos e vídeos nas redes sociais apontam que se trataria de um
protesto contra judeus israelenses que ali desembarcariam.
Makhatchkala é a capital da República do Daguestão, região onde
predomina o islamismo. Ao todo, a Rússia é formada por 85 unidades federativas,
22 das quais são repúblicas criadas como regiões para representar áreas de
nacionalidades não russas.
Segundo a agência oficial russa Ria, muitos dos relatos afirmam que o
grupo, com número incerto de pessoas, ameaçava os israelenses que ali pousariam
durante a noite -tarde em Brasília. Eles teriam ocupado o estacionamento e
partes internas do local. Os aviões que ali deveriam pousar foram
redirecionados para outras pistas.
A chancelaria de Israel disse que observa graves tentativas de
prejudicar judeus no episódio de informações ainda pouco claras e que seu
embaixador em Moscou trabalha com autoridades locais para assegurar a segurança
dos judeus que vivem no país.
Já o rabino-chefe na Rússia, Berel Lazar, publicou nota pedindo que
cidadãos, sejam eles ateus ou praticantes de quaisquer religiões, atuem para
evitar que “extremistas destruam as pontes de amizade entre os vários povos na
Rússia”.
Pesquisa do centro independente Levada mostra que 71% da população russa
de mais de 143 milhões de pessoas diz ser cristã ortodoxa, área da igreja
chefiada no país pelo patriarca Cirilo, um aliado do presidente Vladimir Putin.
Outros 5% dizem ser muçulmanos
Autoridades locais afirmaram, segundo informou a Ria no Telegram, que
abriram uma investigação sobre a organização de tumultos em massa proibidos e
que todos os participantes do ato seriam detidos e responsabilizados. Além
disso, a secretaria do Interior local afirmou que aqueles que incitassem
“discórdia interétnica” também seriam responsabilizados criminalmente.
O local teria sido esvaziado horas após ter início a invasão, mas um
centro de operações foi aberto em região próxima para acompanhar os
desdobramentos. Já os judeus israelenses que ali desembarcaram estavam sendo
mantidos seguros por forças de segurança até que fossem enviados à capital
Moscou em outra aeronave.
A Rússia, assim como ex-repúblicas soviéticas como a Ucrânia, é um dos
principais lugares de onde emigram judeus para morarem em Israel, no processo
conhecido como “aliá”. O movimento foi intensificado em 2022, no contexto da
Guerra da Ucrânia.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, pronunciou-se sobre o
episódio no X, ex-Twitter. “Este não é um incidente isolado, mas sim parte da
cultura generalizada de ódio da Rússia contra outras nações, que é propagada
pela televisão estatal, por especialistas e autoridades”, disse ele, cuja nação
está em guerra com Moscou.
Zelenski acusou o chanceler russo, Serguei Lavrov, de tecer uma série de
comentários antissemitas no ano passado. “Para os locutores da propaganda
russa, a retórica do ódio é rotina. O antissemitismo russo e o ódio contra
outras nações são sistêmicos e enraizados.”
A região que correspondeu à União Soviética e, ainda antes, ao Império
Russo, tem em sua história uma série de episódios de violência contra judeus.
Em ao menos três episódios pré-Segunda Guerra Mundial, por exemplo, a população
judia foi perseguida na região.
São eles: em 1881, durante o Império Russo, quando propriedades de
judeus foram atacadas e dezenas morreram; na Revolução de 1905, quando a
população, instigada por paramilitares russos, perseguiu e assassinou 5.000
judeus na região; e após a Revolução Bolchevique, quando cerca de 100 mil
judeus morreram em ataques perpetrados contra eles. Os episódios são conhecidos
como “pogroms”.
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