Partidos do centrão mantêm pressão contra governo mesmo com ministérios
Quase
dois meses após o ingresso dos partidos PP e Republicanos no primeiro escalão
do governo, o apoio do centrão aos projetos do presidente Lula (PT) segue
condicionado à obtenção de mais espaço, como a coincidência da troca no comando
da Caixa Econômica Federal e a aprovação do projeto da taxação das offshores na
quarta-feira (25). De um lado, o centrão cobra cargos e usa a pauta do ministro
da Fazenda, Fernando Haddad (PT), para pressionar o Palácio do Planalto. Do
outro, Lula adota estratégia de negociações arrastadas e a conta-gotas.
Auxiliares do presidente na articulação política dizem que essa tática tem sido
adotada porque o governo ainda não conta com base parlamentar fiel. Mesmo que
Lula imponha o próprio ritmo (muitas vezes, mais lento) às nomeações para
atender ao centrão, o cenário, traçado ainda no início do mandato, é de
negociações a cada votação.
O grupo, liderado pelo presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP/AL),
cobra a liberação de indicações políticas nas vice-presidências da Caixa, além
da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), que havia sido extinta por Lula e foi
recriada por decisão dos parlamentares. Há ainda o pedido por mais emendas
parlamentares em 2024, ano eleitoral, e articulação por medidas que tiram o
poder de Lula na gestão desses recursos que são distribuídos de acordo com
interesse de deputados e senadores.
A lista de prioridades do governo, por outro lado, inclui projetos de Haddad
para elevar a arrecadação e conseguir ajustar as contas públicas. O próximo
capítulo das negociações políticas já se aproxima. O ministro da Fazenda quer
acelerar a votação de projeto sobre empresas que receberam benefícios no ICMS
e, para isso, deve se reunir com Lira e líderes da Câmara na próxima semana.
São R$ 35 bilhões em jogo para os cofres do governo no próximo ano.
O Congresso sabe do peso desse projeto para os planos de Haddad e da pressa que
o governo tem, o que abre avenida para barganhar cargos e emendas com o
Planalto. Líderes partidários comentam, nos bastidores, que sem essa medida, ou
se ela for muito desidratada, o ministro será forçado a rever a meta de zerar o
rombo das contas públicas no próximo ano. Integrantes do governo com
interlocução política admitem que não há uma carta na manga capaz de alcançar
os R$ 35 bilhões cobiçados pelo governo.
Interlocutores do petista dizem que, apesar da instabilidade da base, a pauta
do governo avançou. Foram aprovadas nesse ano as propostas de recriação dos
programas sociais, a reconfiguração dos ministérios, o novo arcabouço fiscal, o
projeto do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), a tributação das
offshores e a Reforma Tributária. Essa última ainda em tramitação no Senado.
Na sexta-feira (27), Lula disse que não negocia com o centrão, mas com partidos
políticos e reconheceu que fez acordos com PP e Republicanos. “É direito deles,
que gostariam de ter espaço no governo, indicar uma pessoa que esteve na Caixa,
já foi da Caixa, já teve no governo da Dilma, já foi do Ministério das Cidades,
uma pessoa que tem currículo para isso. E eles [partidos] juntos têm mais de
cem votos, eu precisava desses votos para continuar o governo.”
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