Lula
e ministros deixam escapar críticas indiretas contra Dilma
Em evento da União Nacional dos Estudantes (UNE),
Lula mencionou o fato de ser o único presidente a participar de congresso da
entidade nos últimos 14 anos, sem citar que Dilma não fez o mesmo. “Eu fui o
último presidente a participar do congresso da UNE, em 2009. O último. E, 14
anos depois, eu estou aqui. E estejam certos que eu estarei no próximo”, disse.
Já o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT),
exaltou em entrevista no início do ano o fato de Lula convocar reunião com
todos os governadores. Na ocasião, ao direcionar críticas aos ex-presidentes
Michel Temer (MDB), que ficou no poder de 2016 a 2018, e Jair Bolsonaro (PL),
de 2019 a 2022, disse que nunca participou de integração de gestores estaduais
quando foi governador da Bahia. Rui se esqueceu, no entanto, de que chefiou o
Estado quando Dilma ainda era presidente, de 2015 a 2016.
Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT),
omitiu dados fiscais do governo Dilma na apresentação do arcabouço fiscal. A
curva de receitas e despesas exibida pela equipe econômica trouxe dados apenas
de 1997 a 2010. Escondeu o rombo histórico aberto nas contas públicas nos
governos petistas seguintes. Na explicação em que detalhou o modelo que
substituiu o teto de gastos, o ministro afirmou que “os últimos dez anos foram
muito difíceis para este país”, de maneira genérica e sem mencionar Dilma.
O ministro das Cidades, Jader Filho (MDB),
criticou, no dia 7 deste mês, o fato de obras do Minha Casa, Minha Vida terem
ficado paradas por 12 anos, período que alcança a gestão Dilma. A crítica foi
feita em transmissão ao vivo nas redes sociais ao lado de Lula.
No início da transmissão, o ministro criticou a
suspensão do programa habitacional no governo Bolsonaro. Depois, dirigiu-se a
Lula e fez referência a uma obra que, segundo ele, está parada desde 2011. O PT
ficou no poder até 2016. “Isso era do Minha Casa Minha Vida, do PAC [Programa
de Aceleração do Crescimento], que tinha ficado parado de uma obra que o senhor
fez lá atrás. E aí a mocinha [durante entrega de unidades habitacionais] subiu
no palco e disse assim para mim: ‘Eu quero agradecer o presidente Lula, estou
recebendo minha casa e foi graças a ele estar retornando à Presidência que
estou hoje aqui’”, disse o ministro.
Jader é filho do senador Jader Barbalho (MDB/PA) e
irmão do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB). Ele se tornou ministro pelo
peso da família na política paraense e dentro do MDB. Em 2016, o pai do atual
ministro votou a favor da cassação de Dilma. Helder Barbalho chegou a ser
ministro de Dilma, mas pediu demissão para dar apoio ao processo de cassação
que culminou na ascensão de Michel Temer.
Os deslizes dos ministros e do próprio presidente
vão na contramão da estratégia do governo de apontar como culpados pelos
problemas do país apenas Temer e Bolsonaro. Lula costuma afirmar que a petista
foi vítima de golpe, em referência ao impeachment. Ele já disse que Dilma
“merece desculpas” por ter sido retirada do cargo.
Além disso, Lula articulou a indicação de Dilma
para a presidência do Novo Banco de Desenvolvimento do grupo de países
emergentes. No cargo, a petista recebe salário mensal superior a US$ 50 mil
(equivalente a R$ 257 mil) e protagonismo na relação com outros países e na
política brasileira.
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