segunda-feira, 13 de novembro de 2023

 

Lula e ministros deixam escapar críticas indiretas contra Dilma

Lula (PT) e ministros têm escorregado ao defender a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e focado nas duas primeiras gestões petistas para defender o legado deixado pelo partido nos 14 anos à frente da Presidência da República. O presidente e integrantes do governo costumam exaltar Dilma, mas em diversos discursos deixam escapar críticas à gestão dela, de 2011 a 2016.

Em evento da União Nacional dos Estudantes (UNE), Lula mencionou o fato de ser o único presidente a participar de congresso da entidade nos últimos 14 anos, sem citar que Dilma não fez o mesmo. “Eu fui o último presidente a participar do congresso da UNE, em 2009. O último. E, 14 anos depois, eu estou aqui. E estejam certos que eu estarei no próximo”, disse.

Já o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), exaltou em entrevista no início do ano o fato de Lula convocar reunião com todos os governadores. Na ocasião, ao direcionar críticas aos ex-presidentes Michel Temer (MDB), que ficou no poder de 2016 a 2018, e Jair Bolsonaro (PL), de 2019 a 2022, disse que nunca participou de integração de gestores estaduais quando foi governador da Bahia. Rui se esqueceu, no entanto, de que chefiou o Estado quando Dilma ainda era presidente, de 2015 a 2016.

Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), omitiu dados fiscais do governo Dilma na apresentação do arcabouço fiscal. A curva de receitas e despesas exibida pela equipe econômica trouxe dados apenas de 1997 a 2010. Escondeu o rombo histórico aberto nas contas públicas nos governos petistas seguintes. Na explicação em que detalhou o modelo que substituiu o teto de gastos, o ministro afirmou que “os últimos dez anos foram muito difíceis para este país”, de maneira genérica e sem mencionar Dilma.
O ministro das Cidades, Jader Filho (MDB), criticou, no dia 7 deste mês, o fato de obras do Minha Casa, Minha Vida terem ficado paradas por 12 anos, período que alcança a gestão Dilma. A crítica foi feita em transmissão ao vivo nas redes sociais ao lado de Lula.

No início da transmissão, o ministro criticou a suspensão do programa habitacional no governo Bolsonaro. Depois, dirigiu-se a Lula e fez referência a uma obra que, segundo ele, está parada desde 2011. O PT ficou no poder até 2016. “Isso era do Minha Casa Minha Vida, do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento], que tinha ficado parado de uma obra que o senhor fez lá atrás. E aí a mocinha [durante entrega de unidades habitacionais] subiu no palco e disse assim para mim: ‘Eu quero agradecer o presidente Lula, estou recebendo minha casa e foi graças a ele estar retornando à Presidência que estou hoje aqui’”, disse o ministro.

Jader é filho do senador Jader Barbalho (MDB/PA) e irmão do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB). Ele se tornou ministro pelo peso da família na política paraense e dentro do MDB. Em 2016, o pai do atual ministro votou a favor da cassação de Dilma. Helder Barbalho chegou a ser ministro de Dilma, mas pediu demissão para dar apoio ao processo de cassação que culminou na ascensão de Michel Temer.
Os deslizes dos ministros e do próprio presidente vão na contramão da estratégia do governo de apontar como culpados pelos problemas do país apenas Temer e Bolsonaro. Lula costuma afirmar que a petista foi vítima de golpe, em referência ao impeachment. Ele já disse que Dilma “merece desculpas” por ter sido retirada do cargo.

Além disso, Lula articulou a indicação de Dilma para a presidência do Novo Banco de Desenvolvimento do grupo de países emergentes. No cargo, a petista recebe salário mensal superior a US$ 50 mil (equivalente a R$ 257 mil) e protagonismo na relação com outros países e na política brasileira.

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