Ciro carrega peso político duplo, e disputa com Cid emperra articulação para 2024
Para o PDT, Ciro Gomes tem dois pesos. Pedetistas ouvidos pela
reportagem afirmam ainda sentir as consequências da campanha eleitoral mal
sucedida do ex-ministro. A briga dele com o irmão, o senador Cid Gomes
(PDT-CE), também atravanca as movimentações para o pleito de 2024. Por outro
lado, a base fiel de ciristas o coloca como um caminho para reerguer o partido.
A avaliação de correligionários do ex-ministro é a de que ele fez uma
campanha com o fígado, tecendo duras críticas a Lula e se afastando dos aliados
dentro da sigla.
Porém os mesmos avaliam que, se o PDT não tivesse um candidato próprio à
Presidência, o partido poderia ter seguido os mesmos passos das legendas que
desapareceram à sombra do líder petista -seja por terem formado federação com o
PT, como é caso de PC do B e PV, seja por terem, assim como o PSB, diminuído
sua presença no Congresso.
Há hoje uma ala na executiva nacional do PDT que vê Ciro como um ativo
político. Mesmo o partido sendo parte da base governista, eles defendem que são
uma sigla independente e com história própria. Nesse sentido, ter uma liderança
com uma base sua de eleitores -como é o caso do ex-ministro- é visto como um
diferencial.
“Nós estamos no governo Lula para superar essa fase difícil que foi o
governo Bolsonaro. Mas temos nossas propostas, somos um partido diferente”,
afirma o secretário nacional do PDT, o ex-ministro Manoel Dias. “Estamos
momentaneamente reunidos para impedir que a direita volte ao poder”, completa.
Apesar de a eleição federal de 2026 ainda estar longe, já há um caminho
sendo pensado para Ciro dentro do partido. Desta vez, fora da disputa
presidencial. Ele concorreria, pelo plano de alguns pedetistas, a deputado
federal.
A ideia seria repetir o mesmo desempenho que teve quando disputou a vaga
para a Câmara em 2006. Naquele ano, foi eleito como a maior votação
proporcional do país para deputado federal, o que fez o PSB, no qual era
filiado, a garantir várias cadeiras.
Se conseguir repetir o mesmo feito, Ciro ajudaria a repor as vagas que o
PDT vai perder por conta do racha com o irmão no Ceará.
“Ciro é um nome importante, seria interessantíssimo [ele disputar uma
vaga na Câmara]. É um quadro que traria com ele alguns deputados.
Recuperaríamos o espaço que porventura venhamos a perder agora. Mas isso é uma
decisão que cabe a ele”, diz Manoel Dias.
Ciro, por sua vez, tem falado que não pretende mais disputar nenhuma
eleição. “Eu espero não precisar mais submeter minhas opiniões ao crivo
eleitoral de ninguém”, disse em uma transmissão ao vivo em seu canal no
YouTube.
A própria live, porém, já é um indicativo de que pode não querer cumprir
o que está falando.
Depois de ficar meses recluso após a eleição presidencial, Ciro voltou à cena
política.
Ele lançou uma newsletter semanal em que conversa diretamente com sua
base fiel de eleitores e retomou as lives que fazia durante a campanha
presidencial -que, na época, eram comandadas pelo marqueteiro João Santana.
Agora, Santana não está mais trabalhando oficialmente para Ciro -até
porque quem pagava os serviços do marqueteiro era o partido, que parou de
fazê-lo com o final do pleito. No entanto pedetistas próximos afirmam que os
dois criaram uma amizade durante a campanha, e Santana dá alguns conselhos de
comunicação para Ciro.
Nas lives e na newsletter, Ciro comenta temas do cotidiano, desde as
medidas econômicas do governo federal à crise de segurança do Rio, e continua
as críticas a Lula. Mas o tom é mais ameno, fazendo inclusive elogios pontuais
ao presidente.
Além disso, Ciro também se encontrou com nomes ligados ao petista. Em
setembro, ele esteve com o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, coordenador
do programa de governo de Lula na eleição presidencial, e elogiou a gestão
atual do banco.
A ala do PDT mais próxima de Ciro diz que ele tem capacidade de
recuperar o capital político que tinha antes da eleição de 2022.
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