quarta-feira, 15 de novembro de 2023

 

Ciro carrega peso político duplo, e disputa com Cid emperra articulação para 2024

Para o PDT, Ciro Gomes tem dois pesos. Pedetistas ouvidos pela reportagem afirmam ainda sentir as consequências da campanha eleitoral mal sucedida do ex-ministro. A briga dele com o irmão, o senador Cid Gomes (PDT-CE), também atravanca as movimentações para o pleito de 2024. Por outro lado, a base fiel de ciristas o coloca como um caminho para reerguer o partido.

A avaliação de correligionários do ex-ministro é a de que ele fez uma campanha com o fígado, tecendo duras críticas a Lula e se afastando dos aliados dentro da sigla.

Porém os mesmos avaliam que, se o PDT não tivesse um candidato próprio à Presidência, o partido poderia ter seguido os mesmos passos das legendas que desapareceram à sombra do líder petista -seja por terem formado federação com o PT, como é caso de PC do B e PV, seja por terem, assim como o PSB, diminuído sua presença no Congresso.

 

Há hoje uma ala na executiva nacional do PDT que vê Ciro como um ativo político. Mesmo o partido sendo parte da base governista, eles defendem que são uma sigla independente e com história própria. Nesse sentido, ter uma liderança com uma base sua de eleitores -como é o caso do ex-ministro- é visto como um diferencial.

“Nós estamos no governo Lula para superar essa fase difícil que foi o governo Bolsonaro. Mas temos nossas propostas, somos um partido diferente”, afirma o secretário nacional do PDT, o ex-ministro Manoel Dias. “Estamos momentaneamente reunidos para impedir que a direita volte ao poder”, completa.

Apesar de a eleição federal de 2026 ainda estar longe, já há um caminho sendo pensado para Ciro dentro do partido. Desta vez, fora da disputa presidencial. Ele concorreria, pelo plano de alguns pedetistas, a deputado federal.

A ideia seria repetir o mesmo desempenho que teve quando disputou a vaga para a Câmara em 2006. Naquele ano, foi eleito como a maior votação proporcional do país para deputado federal, o que fez o PSB, no qual era filiado, a garantir várias cadeiras.

Se conseguir repetir o mesmo feito, Ciro ajudaria a repor as vagas que o PDT vai perder por conta do racha com o irmão no Ceará.

“Ciro é um nome importante, seria interessantíssimo [ele disputar uma vaga na Câmara]. É um quadro que traria com ele alguns deputados. Recuperaríamos o espaço que porventura venhamos a perder agora. Mas isso é uma decisão que cabe a ele”, diz Manoel Dias.

Ciro, por sua vez, tem falado que não pretende mais disputar nenhuma eleição. “Eu espero não precisar mais submeter minhas opiniões ao crivo eleitoral de ninguém”, disse em uma transmissão ao vivo em seu canal no YouTube.

A própria live, porém, já é um indicativo de que pode não querer cumprir o que está falando.
Depois de ficar meses recluso após a eleição presidencial, Ciro voltou à cena política.

Ele lançou uma newsletter semanal em que conversa diretamente com sua base fiel de eleitores e retomou as lives que fazia durante a campanha presidencial -que, na época, eram comandadas pelo marqueteiro João Santana.

Agora, Santana não está mais trabalhando oficialmente para Ciro -até porque quem pagava os serviços do marqueteiro era o partido, que parou de fazê-lo com o final do pleito. No entanto pedetistas próximos afirmam que os dois criaram uma amizade durante a campanha, e Santana dá alguns conselhos de comunicação para Ciro.

Nas lives e na newsletter, Ciro comenta temas do cotidiano, desde as medidas econômicas do governo federal à crise de segurança do Rio, e continua as críticas a Lula. Mas o tom é mais ameno, fazendo inclusive elogios pontuais ao presidente.

Além disso, Ciro também se encontrou com nomes ligados ao petista. Em setembro, ele esteve com o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, coordenador do programa de governo de Lula na eleição presidencial, e elogiou a gestão atual do banco.

A ala do PDT mais próxima de Ciro diz que ele tem capacidade de recuperar o capital político que tinha antes da eleição de 2022.

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