terça-feira, 7 de novembro de 2023

 

Centrão rebate Lula sobre culpa pela redução de mulheres no governo

Representantes do centrão na Câmara dos Deputados rebateram as declarações do presidente Lula (PT), que atribuiu aos partidos políticos aliados a falta de mulheres no primeiro escalão do governo. Os parlamentares afirmaram que o petista tenta se desvencilhar da responsabilidade que é dele.

Na semana passada, Lula afirmou que, quando são estabelecidas alianças, nem sempre os partidos têm mulheres para indicar. “Eu lamento, porque o que eu quero fortalecer no governo é passar a ideia de que a mulher veio para a política para ficar. Quando um partido político tem que indicar uma pessoa e não tem mulher, eu não posso fazer nada”, disse.

Nem todos os parlamentares do centrão procurados pela reportagem quiseram se contrapor à fala. Alguns se esquivaram de debater a redução feminina após trocas que oficializaram a entrada do grupo no Governo Federal. De uma forma geral, eles afirmaram que a decisão de quem integra ou não a Esplanada dos Ministérios cabe ao presidente e acrescentam que, caso Lula tivesse determinado como fundamental a indicação de mulheres, os partidos teriam atendido.

O grupo, no entanto, indicou apenas homens. Um membro do centrão reconhece que os partidos poderiam ter escolhido mulheres para os cargos, mas diz que o contexto político das mudanças trouxe dificuldade e que Lula poderá aumentar a participação das mulheres nos próximos ajustes na composição do governo.

As mudanças ministeriais foram realizadas na tentativa do governo em melhorar a articulação política com o Congresso Nacional e consolidar base de apoio na Câmara dos Deputados, que se sentia sub-representada na Esplanada. Nos últimos meses, Lula demitiu três mulheres em cargos do primeiro escalão: Daniela Carneiro (Turismo), Ana Moser (Esportes) e Rita Serrano (Caixa Econômica Federal). E nomeou Celso Sabino (União/PA), no Turismo; André Fufuca (PP/MA), nos Esportes; e Silvio Costa Filho (Republicanos/PE), em Portos e Aeroportos; além de indicar Antônio Vieira Fernandes, aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP/AL), para o comando da Caixa.

“É ridículo. Ele demitiu as mulheres do governo dele porque quis. Ninguém mandou ele demitir ninguém. Têm muitas mulheres extremamente competentes aqui na Câmara, no Senado, nas entidades e associações. É fácil delegar para os outros a responsabilidade”, declarou o deputado Pedro Lupion (PP/PR), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), uma das principais forças da Casa.
Historicamente, há baixa representatividade em cargos eletivos nos Poderes Legislativo e Executivo no Brasil, assim como nos postos de lideranças de partidos políticos, apesar de as mulheres serem maioria da população. Segundo dados do Censo Demográfico 2022, o país tem 104,5 milhões de habitantes mulheres, o que representa 51,5% da população. Já 48,5% dos brasileiros são homens.
O Legislativo nunca teve, desde a redemocratização, uma mulher como presidente da Câmara dos Deputados ou do Senado. Foram 18 e 15 chefes, respectivamente, homens. Na atual legislatura da Câmara, por exemplo, apenas uma mulher é líder partidária, a deputada Jandira Feghali (PCdoB/RJ). Das 513 cadeiras, 91 são ocupadas por mulheres.

As mudanças na Esplanada ocorrem no momento em que, em vez de tentar reverter essa sub-representação, o Congresso analisa pacote de projetos que flexibiliza as cotas eleitorais e promove a maior anistia a partidos políticos da história com apoio da maior parte deles, do PL ao PT. Um desses projetos é a PEC das Mulheres, que estabelece reserva de cadeiras mínima nos Legislativos, mas pode reduzir a atual cota de candidaturas.

Parlamentares dizem ainda que essa crítica de Lula não deve ser restrita aos partidos do centrão e apontam que o próprio petista indicou apenas três mulheres, de nove, da cota pessoal de ministros. São elas: Nísia Trindade (Saúde), Margareth Menezes (Cultura) e Anielle Franco (Igualdade Racial).

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