Barroso,
Gilmar e Moraes citam ditadura ao criticarem PEC do Senado
O
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, e os também
ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes reagiram, nessa quinta-feira
(23), contra a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita
as decisões individuais (monocráticas) dos integrantes do STF. Barroso disse
que a erosão das instituições em países que recentemente viveram retrocesso
democrático começou por mudanças nas supremas cortes. “Os antecedentes não são
bons”, disse, em resposta à aprovação da proposta no Senado na quarta-feira
(22).Ele afirmou que o Supremo não vê razão para mudanças constitucionais que visem
alterar as regras do funcionamento da instituição. “O STF é alvo de propostas
de mudanças legislativas que, na visão da Corte, não são necessárias e não
contribuem para a institucionalidade do país.”
Barroso acrescentou que, em um país com demandas importantes e urgentes, que
vão do avanço do crime organizado à mudança climática que impactam a vida de
milhões de pessoas, nada sugere que os problemas prioritários do Brasil estejam
no STF. “Até porque as mudanças sugeridas já foram acudidas, em sua maior
parte, por alterações recentes no próprio regimento do Supremo.”
O presidente do STF disse que o Senado e integrantes “merecem toda a
consideração institucional do Tribunal”, assim como respeito às deliberações
daquela Casa Legislativa. Porém, afirmou que a vida democrática é feita do
debate público constante e do diálogo institucional, “em busca de soluções que
sejam boas para o país e que possam transcender as circunstâncias particulares
de cada momento”.
“Cabe ao Supremo fazer valer a Constituição, preservar a democracia e proteger
direitos fundamentais. A pergunta a se fazer é a seguinte: esses objetivos
foram alcançados? A resposta é afirmativa. Isso significa que o Supremo
Tribunal Federal cumpriu o seu papel e serviu bem ao país. Não há por que
alterar o que vem funcionando bem”, disse.
Barroso também ressaltou que, nos últimos anos, o STF enfrentou o negacionismo
em relação à pandemia, “salvando milhares de vidas, o negacionismo ambiental,
enfrentando o desmatamento da Amazônia e a mudança climática, bem como
funcionou como um dique de resistência contra o avanço autoritário”. Também
falou que, por essa atuação, o Tribunal sofreu ataques verbais e “a criminosa
invasão física que vandalizou as instalações da Corte”, referindo-se ao 8 de
janeiro.
“Após esses ataques verbais e físicos, o Tribunal vê com preocupação avanços
legislativos sobre sua atuação. Nos últimos 35 anos, o Brasil viveu situações
institucionais complexas, que em outros tempos teriam levado à ruptura
constitucional e democrática: crises econômicas, inflação descontrolada,
escândalos de corrupção e dois impeachments. Apesar de tudo o que ocorreu, o
país preservou a estabilidade institucional e a democracia”, disse.
Já Gilmar Mendes declarou que o STF “não irá submeter-se ao tacão autoritário,
venha de onde ele vier, ainda que escamoteado pela representação de maiorias
eventuais”. “As ditaduras são sempre deploráveis e elas podem existir tendo
como marco o Executivo ou, também, o Legislativo. Estou certo de que os autores
desta empreitada começaram-na travestidos de estadistas presuntivos e a
encerram, melancolicamente, como inequívocos pigmeus morais.”
Destacou que a medida é “a ressurreição de um cadáver outrora enterrado” e que
já havia sido rejeitada pelo parlamento em 2020. Afirmou ainda que o STF não se
curvou à ditadura militar e não sucumbiu ao populismo iliberal responsável pelo
trágico 8 de janeiro e que a separação de Poderes é cláusula pétrea e não pode
ser objeto de emenda constitucional. “O fato é que este STF, sempre atento às
suas responsabilidades institucionais e ao contexto que o cerca, está preparado
para enfrentar, uma vez mais e caso necessário, as investidas desmedidas e
inconstitucionais provenientes, agora, do Poder Legislativo”, afirmou.
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