A secretária da Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, afirmou ter enviado a senadores governistas da CPI da Covid perguntas para que eles lhe fizessem durante o depoimento que prestou à comissão no Senado.
Ela afirmou ainda que já havia enviado dez perguntas aos senadores governistas. Entre outras, afirma ter pedido para que eles fizessem perguntas sobre sua formação, as atividades que desempenhou no Ministério da Saúde e os esforços da sua secretaria no enfrentamento à Covid-19.
"São cinco senadores que vão jogar com a gente. Eu preciso dar perguntas a eles para eles interrogarem, cuja resposta seja a oportunidade de eu falar. Certo? Faz o que o senhor achar que pode. A gente tem cinco senadores, cada um tem 15 minutos para me perguntar o que eles quiserem. Então a gente tem 15 minutos vezes 5."
KIT COVID
O link da gravação aparece em um email encaminhado a Mayra pelo epidemiologista Regis Bruni Andriolo, –que defende o chamado tratamento precoce, descartado pela comunidade científica–, dias antes do depoimento dela.
No vídeo aparecem Mayra Pinheiro, o epidemiologista e Hélio Angotti Neto, secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde. A intenção declarada por eles era organizar as publicações científicas a favor do tratamento precoce para que Mayra os usasse no depoimento.
Mayra também sugeriu que poderia arrumar um cargo para o epidemiologista, mesmo ele não tendo sinalizado se tinha ou não interesse em trabalhar na pasta.
Em depoimento à CPI da Covid, a secretária fez defesa ferrenha do uso da hidroxicloroquina, medicamento sem eficácia comprovada para tratamento da Covid-19, e admitiu que a pasta federal orientou médicos de todo o país para que adotassem o tratamento precoce.
CRISE EM MANAUS
Mayra também apresentou versões que conflitam com as apresentadas à comissão pelo ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, em particular sobre a crise em Manaus e a plataforma TrateCov.
A servidora é investigada em ação que corre em segredo na Justiça do Amazonas. Ela confirmou ter dito à Secretaria de Saúde do estado que era inadmissível não adotar a orientação da pasta sobre a utilização desses medicamentos –ineficazes no enfrentamento da doença, segundo estudos.
Essa não é a primeira vez que membros do governo enviam perguntas a senadores governistas. O senador Ciro Nogueira (PP-PI) questionou o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, durante depoimento à CPI da Covid, sobre sua orientação inicial para as pessoas evitarem buscar hospitais se acometidas de sintomas leves da Covid-19.
Mandetta então apontou que a pergunta lida pelo senador tinha sido elaborada pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria, que encaminhou o texto por engano ao ex-ministro.
"Senador Ciro Nogueira, ontem [segunda-feira] eu recebi essa pergunta, exatamente nessa íntegra, do ministro Fabio Faria, que ele inadvertidamente mandou para mim a pergunta. Quando eu ia responder, ele apagou a mensagem. Então vou responder para o senhor, mas também para o meu amigo, que foi parlamentar comigo, ministro Fábio Faria", afirmou Mandetta.
Nogueira já havia apresentado requerimentos de convocações para participação na CPI que foram redigidos por uma servidora da Secretaria de Governo da Presidência da República.
Fonte: Diário do Nordeste
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