O maior crime do maluco que matou 11 crianças e feriu 18 no Rio de Janeiro foi o de ter injetado realidade no faz-de-conta nacional.
O assassino inesperado conspurcou o último templo sagrado da classe média: a escola, espécie de reserva ambiental urbana (no vídeo acima, o instante em que o atirador entrou na sala de aula).
Ao disparar dois revolveres contra alunos da escola que já frequentara, o jovem sem antecedentes criminais criou a neochacina, uma tragédia inclusiva.
Vem daí, sobretudo, o frêmito de horror que eletrifica a nação. Isso era coisa de filme, era coisa de birutas norte-americanos, era coisa de Primeiro Mundo.
As chacinas brasileiras só ocorriam nos fundões da periferia. Os mortos eram estatísticas que a rotina confinou no rodapé das páginas de jornal.
O sangue que escorre na escola pública de Realengo é diferente. Poderia manchar o piso de escolas chiques de Higienópolis, de Ipanema, do Plano Piloto.
Nas velhas chacinas, o país assistia ao genocídio em conta-gotas como uma espécie de processo de auto-regulação da criminalidade e da pobreza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário